23/02/2013

REENCARNAÇÃO


Este texto somente interessa às pessoas que acreditam nos ensinamentos de Jesus Cristo. Traz um resumo de passagens bíblicas que, em meu entender, estão ligadas ao fenômeno da reencarnação. Acreditar na reencarnação faz uma enorme diferença na vida de uma pessoa. Certamente, pelo simples fato de acreditar na reencarnação, ela não se tornará perfeita, mas estará consciente de que irá prosseguir em sua jornada, neste ou em outros mundos, até que “se torne perfeita como perfeito é o Pai que está no céu”.

No exame deste tema, as pessoas, além de mente aberta, deveriam apoiar não apenas no catecismo que lhes foi ensinado na infância – conhecimento elementar que, na imensa maioria das pessoas, permanece até hoje estagnado –, mas principalmente na lógica e na razão de uma estrutura mental adulta compatível com o desenvolvimento do mundo atual.


Dividiremos o trabalho nas três passagens seguintes:

PRIMEIRA
Quem dizem os homens que é o Filho do Homem? Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas”.[i]

SEGUNDA
Jesus respondeu: “Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram... Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista”.[ii]

TERCEIRA
Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.[iii]

Examinemos hoje a PRIMEIRA PASSAGEM:

Quem dizem os homens que é o Filho do Homem? Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas”.[iv]

Quem dizem as multidões que eu sou? Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.[v]

Das passagens acima, depreende-se que os homens e as multidões acreditavam na reencarnação, porque respondiam que Jesus era uma pessoa que já havia morrido, isto é, João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas. Em outras palavras, entendiam que era o espírito de João Batista (Elias, Jeremias ou dos antigos profetas) que habitava o corpo de Jesus.

A presença do verbo ressuscitou deixa claro que podemos ressuscitar tanto no céu quanto na terra, assim como se pode ressuscitar tanto no próprio corpo[vi] quanto em um corpo diferente, conforme se observa nas passagens acima.

Depreende-se ainda que, tanto Jesus quanto os discípulos, concordavam com a reencarnação. Esse entendimento sobre a concordância de Jesus e dos discípulos faz sentido porque se trata de um tema relevante, e, assim sendo, Jesus certamente alertaria sobre o erro de tal entendimento.[vii] Chego a supor que, além de proceder aos devidos esclarecimentos, Jesus “daria um tremendo puxão de orelhas em seus discípulos” por estarem repetindo tamanho absurdo; isso se a reencarnação fosse um absurdo ou não estivesse coerente com os ensinamentos de Jesus.[viii]

Se a reencarnação não estivesse coerente com os ensinamentos de Jesus, a Bíblia deveria estar repleta de correções, alertas e ensinamentos contrários à ela, porque homens e multidões acreditavam que era possível o espírito retornar em outros corpos (reencarnar), conforme se depreende das respostas dadas aos discípulos. Nesse sentido, existem informações de que o tema da reencarnação era exaustivamente tratado nas primeiras versões da Bíblia, e de que tais partes foram expurgadas por não consultar, parece-me, os interesses da elite e dos governantes “da época”.

SEGUNDA PASSAGEM

Jesus respondeu: “Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram...”. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista”.[ix]

Por se tratar a reencarnação de um tema relevante, meu primeiro questionamento foi o fato de quase nada ser comentado em notas bíblicas. Para ser mais claro, o único comentário por mim encontrado foi:

Elias: segundo um oráculo do profeta Malaquias (4,5)[x], Elias deveria voltar à terra. Jesus dá a entender aos judeus que este oráculo se cumpriu figurativamente, porque João Batista exerceu o papel análogo ao do profeta Elias.[xi] (grifo nosso)

A explicação acima, que, segundo parece, tem por objetivo “contornar” o fenômeno da reencarnação existente nas palavras de Jesus, por si só, é frágil e mais frágil se torna ao examinarmos as passagens seguintes:

Eu mandarei a vocês o profeta Elias... Ele há de fazer que o coração dos pais voltem (sic) para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total. Malaquias 3,23 (ou 4,5).[xii]

[...] sua esposa Isabel vai ter um filho, e você lhe dará o nome de João. [...] Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto. Lucas 1,12-17.[xiii]

Devemos salientar que os textos acima se encontram intimamente ligados, porque:

a)    Ambos se reportam especificamente ao profeta Elias; e

b)    o objetivo da vinda de Elias – “fazer que o coração dos pais voltem (sic) para os filhos e o coração dos filhos para os pais” – é igual ao objetivo de João Batista – “converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto”.

“Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias”. De acordo com 1 Cor 2,11, “quem conhece a fundo a vida íntima do homem é o espírito do homem que está dentro [do corpo] dele”. Desse modo, o corpo de João Batista caminhará à frente deles, com o espírito de Elias. Nas palavras de Jesus,

E se vocês o quiserem aceitar, João é Elias que devia vir.[xiv]
E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar.[xv]
E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir.[xvi]
E, se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir.[xvii]
E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir.[xviii] (grifo nosso)

Alguns poderiam questionar que a palavra espírito que se encontra no texto não tem o mesmo significado da palavra espírito que se encontra em 1 Cor 2,11. A palavra estaria significando com as “características”, “caráter” e “gênio” de Elias. Contudo, as palavras do Senhor são, inquestionavelmente, objetivas: “eu mandarei a vocês o profeta Elias”. Ele poderia ter tido: “eu mandarei a vocês João Batista” – nada o impedia de fazê-lo! Como Ele é perfeito – conhece tudo, o passado, o presente e futuro –, Ele sabia que seria João Batista que viria; desse modo, simplesmente teria dito: “eu mandarei a vocês João Batista”.

Por outro lado, Ele não pode mudar de idéia e mandar João Batista no lugar de Elias, simplesmente porque, se eu aceitar que Ele mudou de idéia, o cosmo, o universo, o mundo, tudo se tornaria um caos, porque ninguém saberia quando Ele iria mudar de idéia e nos “remeter um substituto”. Simplesmente, Ele não pode mudar de idéia, porque Ele é perfeito e, sendo perfeito, não há o que mudar!

Observaram também a palavra mesmo na última tradução citada acima: [...] ele mesmo é Elias, que estava para vir. Aqui, o dicionário bate o martelo: mesmo. Que não é outro; o próprio; igual; idêntico; que não é outra coisa... (grifo nosso)[xix]

TERCEIRA PASSAGEM

            Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.[xx]

Se Jesus recomenda que sejamos perfeitos é porque devemos e podemos ser perfeitos. Primeiro, vejamos o conceito de perfeito. No meu entender, perfeito é aquele que já se encontra de acordo com os ensinamentos de Jesus. Citarei apenas alguns parâmetros para avaliar nosso grau de perfeição:

Jesus respondeu: não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; e ame a seu próximo como a si mesmo.[xxi] Não julguem, e vocês não serão julgados.[xxii] Eu digo a vocês: no dia do julgamento, todos devem prestar contas de cada palavra inútil que tiverem falado.[xxiii]

Jesus não apenas recomenda que devemos ser perfeitos, mas estabelece isso como condição sine qua non para que possamos entrar no Reino do Céu ao garantir: se vocês não se converterem [não se tornarem perfeitos], e não se tornarem como crianças, vocês NUNCA entrarão no Reino do Céu. Dois pontos merecem ser analisados:

Se eu não conseguir me tornar perfeito, me tornar como criança, quando morrer não entrarei no Reino do Céu. Onde ficarei? Não posso ficar indefinidamente no inferno....Se me responderem que ficarei no purgatório

A pergunta que se faz é a seguinte: existe possibilidade de alguém se tornar perfeito, em setenta anos, ou seja, somente em uma única vida na terra, considerando os parâmetros de perfeição acima e toda a evolução que conquistamos até os dias atuais. Exemplificando, tenho 63 anos, creio que até o momento “desbastei” uma parte grosseira, mas estou absolutamente convicto de que muito me falta ainda para ressuscitar no céu e me tornar efetivamente “um com o Pai” conforme disse Jesus.




[i] (A) Mateus 16,13-14.
[ii] (A) BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. 36ª impressão. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1999, Mateus 17,11-13.

[iii] (A) Mateus 5,48.
[iv] (A) Mateus 16,13-14.
[v] (A) Lucas 9,18-19.
[vi] (C) Cura de uma hemorroíssa e ressurreição da filha de um chefe. Mateus 9,18.
[vii] (A) Observa-se tal comportamento em Mateus 22,29: “Jesus respondeu: vocês estão enganados, porque não conhecem as Escrituras, nem o poder de Deus”.
[viii] (A) Se alguém duvida da possibilidade desse comportamento de Jesus, leia Mateus 23,1-36.
[ix] (A) BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. 36ª impressão. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1999, Mateus 17,11-13.
[x] (B) Nesta tradução não existe Malaquias 4,5; a referência deveria ser Malaquias 3,23.

[xi] . (B) Mateus 11,14, nota.


[xii] (A) Malaquias 3,23.
[xiii] (A) Lucas 1,12-17.
[xiv] Ibid., Mateus 11,14.
[xv] (B) BÍBLIA SAGRADA. Tradução do Centro Bíblico Católico. 61ª ed. São Paulo: Editora Ave Maria, 1988, Mateus 11,14.
[xvi] (C) BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002, Mateus 11,14.
[xvii] (D) BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002, Mateus 11,14.
[xviii] (E) BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993, Mateus 11,14.
[xix] O GLOBO. Dicionário Brasileiro da Língua Poretuguesa. 30ª ed. Rio de Janeiro: São Paulo: Globo, 1993.
[xx] (A) Mateus 5,48.
[xxi] (A) Mateus 19,18.
[xxii] (A) Mateus 7,1.
[xxiii] (A) Mateus 12,36.