Este
texto somente interessa às pessoas que acreditam nos ensinamentos de Jesus
Cristo. Traz um resumo de passagens bíblicas que, em meu entender, estão
ligadas ao fenômeno da reencarnação. Acreditar na reencarnação faz uma enorme
diferença na vida de uma pessoa. Certamente, pelo simples fato de acreditar na
reencarnação, ela não se tornará perfeita, mas estará consciente de que irá prosseguir
em sua jornada, neste ou em outros mundos, até que “se torne perfeita como perfeito
é o Pai que está no céu”.
No
exame deste tema, as pessoas, além de mente aberta, deveriam apoiar não apenas no
catecismo que lhes foi ensinado na infância – conhecimento elementar que, na
imensa maioria das pessoas, permanece até hoje estagnado –, mas principalmente
na lógica e na razão de uma estrutura mental adulta compatível com o
desenvolvimento do mundo atual.
Dividiremos
o trabalho nas três passagens seguintes:
PRIMEIRA
Quem dizem os homens
que é o Filho do Homem? Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista;
outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas”.[i]
SEGUNDA
Jesus respondeu:
“Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e
eles não o reconheceram... Então os discípulos compreenderam que Jesus falava
de João Batista”.[ii]
TERCEIRA
Portanto, sejam
perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.[iii]
Examinemos
hoje a PRIMEIRA PASSAGEM:
Quem dizem os homens
que é o Filho do Homem? Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros,
que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas”.[iv]
Quem dizem as
multidões que eu sou? Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista;
outros que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.[v]
Das
passagens acima, depreende-se que os homens e as multidões acreditavam na reencarnação, porque respondiam que Jesus era
uma pessoa que já havia morrido, isto é, João Batista, Elias, Jeremias ou algum
dos profetas. Em outras palavras, entendiam que era o espírito de João Batista (Elias, Jeremias ou dos antigos profetas)
que habitava o corpo de Jesus.
A
presença do verbo ressuscitou deixa
claro que podemos ressuscitar tanto no céu quanto na terra, assim como se pode
ressuscitar tanto no próprio corpo[vi]
quanto em um corpo diferente, conforme se observa nas passagens acima.
Depreende-se
ainda que, tanto Jesus quanto os discípulos, concordavam com a reencarnação. Esse
entendimento sobre a concordância de Jesus e dos discípulos faz sentido porque
se trata de um tema relevante, e, assim sendo, Jesus certamente alertaria sobre
o erro de tal entendimento.[vii]
Chego a supor que, além de proceder aos devidos esclarecimentos, Jesus “daria
um tremendo puxão de orelhas em seus discípulos” por estarem repetindo tamanho
absurdo; isso se a reencarnação fosse um absurdo ou não estivesse coerente com
os ensinamentos de Jesus.[viii]
Se
a reencarnação não estivesse coerente com os ensinamentos de Jesus, a Bíblia
deveria estar repleta de correções, alertas e ensinamentos contrários à ela,
porque homens e multidões
acreditavam que era possível o espírito retornar em outros corpos (reencarnar),
conforme se depreende das respostas dadas aos discípulos. Nesse sentido, existem
informações de que o tema da reencarnação era exaustivamente tratado nas
primeiras versões da Bíblia, e de que tais partes foram expurgadas por não
consultar, parece-me, os interesses da elite e dos governantes “da época”.
SEGUNDA
PASSAGEM
Jesus respondeu:
“Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e
eles não o reconheceram...”. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava
de João Batista”.[ix]
Por
se tratar a reencarnação de um tema relevante, meu primeiro questionamento foi
o fato de quase nada ser comentado em notas bíblicas. Para ser mais claro, o
único comentário por mim encontrado foi:
Elias: segundo um oráculo do profeta Malaquias (4,5)[x],
Elias deveria voltar à terra. Jesus dá a entender aos judeus que este oráculo
se cumpriu figurativamente, porque João Batista exerceu o papel análogo
ao do profeta Elias.[xi]
(grifo nosso)
A
explicação acima, que, segundo parece, tem por objetivo “contornar” o fenômeno
da reencarnação existente nas palavras de Jesus, por si só, é frágil e mais
frágil se torna ao examinarmos as passagens seguintes:
Eu mandarei a vocês o
profeta Elias... Ele há de fazer que o coração dos pais voltem (sic) para os
filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não
condenarei o país à destruição total. Malaquias 3,23 (ou 4,5).[xii]
[...] sua esposa
Isabel vai ter um filho, e você lhe dará o nome de João. [...] Ele
reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente
deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações
dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o
Senhor um povo bem disposto. Lucas 1,12-17.[xiii]
Devemos
salientar que os textos acima se encontram intimamente ligados, porque:
a)
Ambos
se reportam especificamente ao profeta Elias; e
b)
o
objetivo da vinda de Elias – “fazer que o coração dos pais voltem (sic) para os
filhos e o coração dos filhos para os pais” – é igual ao objetivo de João Batista
– “converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos
justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto”.
“Caminhará
à frente deles, com o espírito e o
poder de Elias”. De acordo com 1 Cor
2,11, “quem conhece a fundo a vida íntima do homem é o espírito do homem que está dentro [do corpo] dele”. Desse modo, o corpo de João Batista caminhará à frente
deles, com o espírito de Elias. Nas
palavras de Jesus,
E se vocês o quiserem
aceitar, João é Elias que devia vir.[xiv]
E, se quereis
compreender, é ele o Elias que devia voltar.[xv]
E, se quiserdes dar
crédito, ele é o Elias que deve vir.[xvi]
E, se quereis aceitar,
ele é o Elias que há de vir.[xvii]
E, se o quereis
reconhecer, ele mesmo é Elias,
que estava para vir.[xviii]
(grifo nosso)
Alguns
poderiam questionar que a palavra espírito
que se encontra no texto não tem o mesmo significado da palavra espírito que se encontra em 1 Cor 2,11.
A palavra estaria significando com as “características”, “caráter” e “gênio” de
Elias. Contudo, as palavras do Senhor são, inquestionavelmente, objetivas: “eu mandarei
a vocês o profeta Elias”. Ele poderia ter tido: “eu mandarei a vocês João
Batista” – nada o impedia de fazê-lo! Como Ele é perfeito – conhece tudo, o
passado, o presente e futuro –, Ele sabia que seria João Batista que viria;
desse modo, simplesmente teria dito: “eu mandarei a vocês João Batista”.
Por
outro lado, Ele não pode mudar de idéia e mandar João Batista no lugar de
Elias, simplesmente porque, se eu aceitar que Ele mudou de idéia, o cosmo, o
universo, o mundo, tudo se tornaria um caos, porque ninguém saberia quando Ele
iria mudar de idéia e nos “remeter um substituto”. Simplesmente, Ele não pode
mudar de idéia, porque Ele é perfeito e, sendo perfeito, não há o que mudar!
Observaram
também a palavra mesmo na última tradução citada acima: [...] ele mesmo é Elias, que estava para
vir. Aqui, o dicionário bate o martelo: mesmo. Que não é outro; o
próprio; igual; idêntico; que não é outra coisa... (grifo nosso)[xix]
TERCEIRA
PASSAGEM
Portanto,
sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.[xx]
Se
Jesus recomenda que sejamos perfeitos é porque devemos e podemos ser perfeitos.
Primeiro, vejamos o conceito de perfeito. No meu entender, perfeito é aquele
que já se encontra de acordo com os ensinamentos de Jesus. Citarei apenas alguns
parâmetros para avaliar nosso grau de perfeição:
Jesus respondeu: não
mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; e ame a
seu próximo como a si mesmo.[xxi] Não
julguem, e vocês não serão julgados.[xxii]
Eu digo a vocês: no dia do julgamento, todos devem prestar contas de cada
palavra inútil que tiverem falado.[xxiii]
Jesus
não apenas recomenda que devemos ser perfeitos, mas estabelece isso como
condição sine qua non para que
possamos entrar no Reino do Céu ao garantir: se vocês não se converterem [não se tornarem perfeitos], e não se
tornarem como crianças, vocês NUNCA entrarão no Reino do Céu. Dois pontos
merecem ser analisados:
Se
eu não conseguir me tornar perfeito, me tornar como criança, quando morrer não
entrarei no Reino do Céu. Onde ficarei? Não posso ficar indefinidamente no
inferno....Se me responderem que ficarei no purgatório
A
pergunta que se faz é a seguinte: existe possibilidade de alguém se tornar
perfeito, em setenta anos, ou seja, somente em uma única vida na terra,
considerando os parâmetros de perfeição acima e toda a evolução que
conquistamos até os dias atuais. Exemplificando, tenho 63 anos, creio que até o
momento “desbastei” uma parte grosseira, mas estou absolutamente convicto de
que muito me falta ainda para ressuscitar no céu e me tornar efetivamente “um
com o Pai” conforme disse Jesus.
[i] (A)
Mateus 16,13-14.
[ii] (A)
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. 36ª
impressão. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1999,
Mateus 17,11-13.
[iii] (A)
Mateus 5,48.
[iv] (A)
Mateus 16,13-14.
[v] (A)
Lucas 9,18-19.
[vi] (C)
Cura de uma hemorroíssa e ressurreição
da filha de um chefe. Mateus 9,18.
[vii] (A)
Observa-se tal comportamento em Mateus 22,29: “Jesus respondeu: vocês estão
enganados, porque não conhecem as Escrituras, nem o poder de Deus”.
[viii] (A)
Se alguém duvida da possibilidade desse comportamento de Jesus, leia Mateus
23,1-36.
[ix] (A)
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. 36ª
impressão. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1999,
Mateus 17,11-13.
[x] (B)
Nesta tradução não existe Malaquias 4,5; a referência deveria ser Malaquias
3,23.
[xii] (A)
Malaquias 3,23.
[xiii] (A)
Lucas 1,12-17.
[xiv] Ibid.,
Mateus 11,14.
[xv] (B)
BÍBLIA SAGRADA. Tradução do Centro Bíblico Católico. 61ª ed. São Paulo: Editora
Ave Maria, 1988, Mateus 11,14.
[xvi] (C)
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002, Mateus 11,14.
[xvii] (D)
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002,
Mateus 11,14.
[xviii] (E)
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed. Barueri, SP:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1993, Mateus 11,14.
[xix] O
GLOBO. Dicionário Brasileiro da Língua Poretuguesa. 30ª ed. Rio de Janeiro: São
Paulo: Globo, 1993.
[xx] (A)
Mateus 5,48.
[xxi] (A)
Mateus 19,18.
[xxii] (A)
Mateus 7,1.
[xxiii] (A)
Mateus 12,36.