07/01/2011

AS "RÃS" E AS "PANELAS"

Hoje, recebi a metáfora da rã. É a seguinte: a rã saltará para fora da panela, se a água estiver quente. Mas ela não saltará, se a água estiver na temperatura do ambiente; neste caso, ela poderá ser cozida. Será que, sem sentir, não estamos sendo “cozidos” por um mundo de coisas que nós próprios construímos?
Existem dezenas de situações em que, por razões diversas, optamos por não pular para fora da “panela”, e, assim, vamos sendo cozidos aos poucos, até morrermos. As razões são inúmeras e variam de acordo com as características de cada um e de cada situação. Pode-se afirmar que vão desde simples comodidades até o eterno medo de sermos colocados no “caldeirão” do inferno.
O pior é que, infelizmente, nem sempre podemos saltar para fora da “panela”. Por exemplo, os que acreditam em vida após a morte não podem saltar para fora da vida. Portanto, suicidar-se constitui uma tremenda burrice! Além da vida, é impossível escaparmos da “panela” representada pelo Estado e, para alguns – ou para muitos? – ainda existe a “panela” do casamento.
Mas, seja como for, as estatísticas demonstram que as “panelas” estão esquentando nos últimos anos, especialmente no que se refere aos aspectos psicológicos e espirituais. É fato, também, que ninguém, de forma isolada, está seguro em qualquer posição que se encontrar dentro da “panela” – o fogo, direta ou indiretamente, atinge a todos!
Já que não podemos pular para fora das “panelas”, temos que encontrar uma maneira de não sermos cozidos – e evitar que nossos filhos e netos tenham o mesmo destino. A única solução me parece ser o associativismo. Cozinhar uma rã ou algumas rãs é possível, mas é impossível cozinhar todas as rãs ou a maioria delas.
O associativismo e, conseqüentemente, a participação nos negócios públicos nos livrarão da “panela” do Estado, representado, em nossas vidas, principalmente pelas prefeituras. Se a maioria das pessoas participar efetivamente do processo de gestão municipal, a minoria que se encontra no poder não terá condições de colocar a maioria que a elegeu dentro da “panela”. A maioria não vai se sujeitar, por exemplo, a ser cozida pelo aumento do IPTU nas vésperas do Natal! Ela buscará novas alternativas ou, pelo menos, vai querer saber – muito claramente, ou seja, “tintim por tintim” – por que está sendo cozida, conforme lhe faculta o art. 49 da Lei complementar nº 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Com relação à “panela” da vida, a importância do associativismo se explica nas palavras de Cristo – “amar ao próximo como a si mesmo”.
É impossível “amar ao próximo como a si mesmo” à distância, ou seja, sem nos associarmos a ele. Você ama algumas pessoas, seus parentes e seus amigos, porque você participa da vida deles, e eles participam da sua. Isso é muito bom, mas não é suficiente, pois “O Pai e eu somos um” (Jo 10,30), o que quer dizer que, na “panela” da vida, não se encontram somente parentes e amigos, mas todas as pessoas e tudo o que existe no universo.
Por isso, concluí que uma boa forma de amar as pessoas é participar da gestão publica municipal e contribuir para a construção de uma cidade que, administrada de forma eficaz, tenha os seus recursos utilizados de acordo com os anseios e as necessidades da população. E não de acordo com as idéias e os interesses da liderança política que eventualmente se encontra no poder.
Ao dar uma esmola ou fazer outra caridade, nós participamos da vida de uma pessoa ou de algumas pessoas – mas atuamos no varejo! Por outro lado, ao participar do processo de gestão municipal, atuamos por atacado, ou seja, na vida de todas as pessoas da comunidade – e, se desejarmos, especialmente das classes marginalizadas. Ademais, estaremos atuando em todas as áreas: geração de emprego e renda, moradia, saneamento, meio ambiente, transporte, segurança, educação, saúde, esporte, cultura e lazer.
Participar não é apenas votar nas eleições. É, principalmente, estar presente em associações, órgãos de classe e sindicatos, a fim de que estas instituições se tornem fortes e legítimas, e, desse modo, possam estar presentes efetivamente na administração do município, conforme previsto no modelo democrático inaugurado pela Lei nº 10.257/01 (Estatuto da Cidade). Um modelo implementado de direito, mas, até hoje, não implementado de fato pela quase totalidade dos municípios brasileiros. Na prática, ainda se pratica o modelo de gestão pública municipal dos tempos de nossos avôs, ou seja, clientelista, centralizado, autoritário e tecnocrático.
O associativismo é a única maneira de tornar as “panelas” da vida e do Estado mais agradáveis, e, assim sendo, transformar este mundo num lugar melhor para se viver, a tal ponto que ninguém deseje ou necessite pular para fora dele, mesmo que seja por meio de drogas, álcool e antidepressivos. Ou – por que não? – também através de sexo, comida, trabalho, reza e consumismo!
Outra historinha de outra rã. A floresta pegou fogo, e o escorpião somente poderia escapar pelo rio. Ao avistar a rã que iria nadar até a outra margem, fez-lhe um pedido:
— Leva-me até a outra margem nas tuas costas.
— Mas és venenoso, respondeu a pobre rã.
— Não tem problema, pois se eu te picar morrerei também, justificou o escorpião.
A rã aceitou. No meio da trajetória, sente uma terrível dor e exclama:
— Não é possível, vamos morrer juntos!
— Desculpe-me, mas é a minha natureza, gritou o escorpião!

            No Estado, na Vida e em tudo, talvez o desafio esteja em provar que a nossa verdadeira natureza é divina, e não animal como a do escorpião. Mas provar para nós mesmos – para nosso Cristo Interior (2Cor 13,5) –, e não provar apenas para o nosso próprio ego, ou para a sociedade, através de simulações e ritos religiosos.
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