22/01/2013

EM QUAL GRUPO VOCÊ SE ENCONTRA?

Ao tratar das crises que precedem o despertar espiritual, o Dr. Roberto Assagioli revê algumas características psicológicas do ser humano, e divide as pessoas em dois grupos.

GRUPO I

O homem comum se deixa viver, mais do que vive. Aceita a vida tal como ela se apresenta e não se preocupa com os problemas de seu significado, seu valor ou seu propósito; dedica-se à satisfação de seus desejos pessoais; busca tão-só a gratificação dos sentidos e empenha-se em enriquecer e satisfazer suas ambições.
Se for mais maduro, subordina sua satisfação pessoal ao cumprimento de várias obrigações familiares e sociais que lhe cabem, sem se dar ao trabalho de entender em que bases essas obrigações assentam ou de que fonte promanam. Possivelmente, considera-se “religioso” e crente em Deus, mas sua religião é exterior e convencional, e quando se acomodou aos preceitos de sua igreja e participou de seus ritos acha que fez tudo o que lhe era pedido. Em suma, acredita implicitamente que a única realidade é a do mundo físico que pode ver e tocar e, portanto, está fortemente ligado a bens terrenos, aos quais atribui um valor positivo; assim considera praticamente esta vida um fim em si mesma. A sua crença num futuro “céu”, se porventura concebe a existência de um, é inteiramente teórica e acadêmica, como se prova pelo fato de que realiza os maiores esforços para adiar o mais possível sua viagem para as alegrias celestes.

GRUPO II

Mas pode acontecer – prossegue o Dr. Assagioli – que esse “homem ordinário” (homem comum) seja surpreendido e perturbado por uma mudança – súbita ou lenta – em sua vida interior. Isso é suscetível de ocorrer após uma série de desapontamentos; não raras vezes, depois de algum choque emocional, como a perda de um parente amado ou de um amigo muito querido. Mas, outras vezes, ocorre sem qualquer causa aparente e em plena fruição de saúde e riqueza. A mudança inicia-se com um sentimento de insatisfação, com uma sensação de “vazio”, mas não à falta de algo material e definido; é algo vago e impalpável, que ele é incapaz de descrever. Some-se a isso, gradualmente, um sentimento de irrealidade e vacuidade da vida ordinária; todos os assuntos pessoais, que antes absorviam a maior parte de sua atenção e interesse, parecem recuar, psicologicamente, para segundo plano e perder toda a sua importância e valor. Surgem novos problemas. O indivíduo começa indagando-se sobre a origem e o propósito da vida; perguntando-se qual a razão de tantas coisas que ele antes considerava axiomáticas; questionando, por exemplo, o significado de seus próprios sofrimentos e os dos outros, e que justificação pode existir para tantas desigualdades nos destinos dos homens. Quando um homem atingiu esse ponto, é capaz de entender e interpretar erroneamente sua condição. Muitos que não compreendem o significado desses novos estados de espírito consideram-nos fantasias ou excentricidades anormais. Alarmados com a possibilidade de desequilíbrio mental, empenham-se em combatê-las de várias maneiras, realizando esforços frenéticos para se religarem à “realidade” da vida ordinária que parece estar fugindo deles. Freqüentemente, lançam-se com redobrado ardor num torvelinho de atividades externas, procurando sempre novas ocupações, novos estímulos e novas sensações. Por esses e outros expedientes, eles podem obter êxito durante algum tempo e aliviar a condição perturbada, mas são incapazes de livrar-se dela completamente. Ela continuará fermentando nas profundezas do seu ser, minando os alicerces de sua existência ordinária e, por conseguinte, será capaz de irromper de novo, talvez após um longo intervalo, com redobrada intensidade. O estado de inquietação e agitação torna-se cada vez mais doloroso e a sensação de vazio interior mais intolerável. O indivíduo sente-se perplexo, a maioria das coisas que constituíam sua vida parece agora terem-se dissipado como um sonho, sem que uma nova luz tenha ainda surgido.

ASSAGIOLI,
Roberto. Psicossíntese-manual de princípios e técnicas. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 54-6.