A
transição entre a minha geração e a geração atual foi feita por nós!
O
mundo de hoje mostra que, de uma forma geral, não conseguimos administrar a
passagem de forma eficaz.
É
um tema complexo, mas me parece que meus pais tiveram menos dificuldades para
me educar. Já refleti sobre o assunto, juntamente com Osho e o Dr. José Angelo
Gaiarsa (no livro “Sobre uma escola para o novo homem”).
Por que era mais fácil para os pais educar filhos na década de 50?
Basicamente,
porque vivíamos num mundo autoritário, patriarcal e sem informações. A
palavra do pai era lei para toda a família: “bastava um olhar”! Parafraseando
Bruno Berttelheim (no livro “Uma vida para seu filho: pais bons o bastante”),
os pais eram delegados (prendiam), promotores (acusavam) e juízes (julgavam e
condenavam). Além de aplicarem a pena – sem a mínima chance de defesa para o
réu (eu!) quando roubava carambola no quintal da vizinha!
Essa
autoridade – do mais forte - foi diminuindo ao longo dos anos, em consequência
do próprio desenvolvimento, e, com a igualdade de direitos entre homens e
mulheres, educar filhos ficou mais difícil, pois a unidade comando, um
princípio básico da boa administração, desapareceu.
Por
outro lado, os filhos foram ficando cada dia mais sabidos, e aprenderam logo a
usar essa divisão do poder familiar a seu favor. Todos os pais vivem isso:
“Mãe, posso fazer isso”? “Vou pedir ao papai”! E, como nem sempre a relação
entre os pais vai bem – ou os pais estão preocupados com o orçamento familiar,
em razão da crise econômica do país – a decisão tomada muitas vezes não é a
melhor para a educação do filho!
Ademais, vivendo num mundo capitalista, os pais priorizaram - e estão priorizando
- a sobrevivência material dos filhos, em detrimento da formação emocional,
psicológica e espiritual. Essa forma de educar está nos colocando, a cada dia,
mais fundo num túnel escuro - um túnel de onde somente conseguiremos sair se
nos conscientizarmos de que o homem - egoísta e vaidoso - não é a medida de
todas as coisas do Universo. Pode existir um Deus, seja ele como for!
Além
de autoritário e patriarcal, praticamente não havia informações – isso é muito
importante! O pai era o “sabichão”! Hoje a coisa complicou! Por exemplo,
antigamente, se o filho perguntava ao pai “quem foi Jesus”, o pai dizia
simplesmente que “Jesus é o filho único de Deus” – e acabou! Hoje, não! O filho
pode consultar o “Dr. Google”, e encontrar mais de 7 milhões de resultados para
a palavra “Jesus”. Isso quer dizer que, dependendo da resposta que o pai der ao
filho, sua credibilidade vai para o espaço!
Sobre
relações entre pais e filhos, Osho dá uma pincelada no livro “A jornada de ser
humano: é possível encontrar felicidade real na vida cotidiana?”, mas, como
sempre, joga muito pesado. Eis um exemplo para desestimular os pais de lerem o
livro:
“Você me pergunta o que há algo de errado com seus pais. Tudo! Em primeiro lugar, eles se casaram. Se não tivessem se casado, pelo menos, teriam salvado você desta vida! E estavam muito envolvidos com a pintura, a poesia, as danças...”.