11/06/2015

ALÉM DE "PUAIAS" E "GOTEIRAS"

Este texto foi escrito há nove anos, em 09.06.2006. Deve ter sido publicado no Jornal de Muriaé e, como fazia, devo tê-lo remetido, via e-mail, a lideranças políticas, vereadores e associações diversas.
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ALÉM DE “PUAIAS” E “GOTEIRAS”
GESTÃO DEMOCRÁTICA POR MEIO DA PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO
CRIAÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG)

A presente proposta decorre do fato de estar claro que:

a) o povo pode exercer o poder por meio de representantes eleitos ou DIRETAMENTE (Constituição Federal);

b) a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000) não vem sendo cumprida em sua totalidade, especialmente por não existir controle por parte da população, em que pesem a objetividade e a clareza da lei:
[...] será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas [...] as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade; e
c) o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10.07.01) foi criado com o objetivo de inaugurar um novo marco na administração pública brasileira que se caracteriza fundamentalmente pela
gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.
Somente não está claro por que não participamos. Mas o mestre Aldous Huxley (1937), como sempre, traz sua inigualável contribuição:

Existem poucos governantes e muitos governados. Os governantes são geralmente conduzidos pelo amor ao poder e ocasionalmente pelo senso de dever perante a sociedade. Os governados, na sua maior parte, tranquilamente aceitam a sua posição subalterna e até mesmo real sofrimento e injustiça. A paciência dos homens comuns é o mais importante e quase o mais surpreendente fato da História. A maioria dos homens e mulheres está preparada para tolerar o intolerável. As razões para este extraordinário estado de coisas são muitas e variadas. Em primeiro lugar, está a ignorância. Aqueles que desconhecem outro estado de vida senão o que é intolerável, não têm consciência de que o seu quinhão pode ser melhorado. Em seguida vem o medo. Os homens sabem que suas existências são intoleráveis, mas receiam as consequências da revolta. A existência do senso de parentesco e solidariedade social constitui outra razão para que os povos tolerem o intolerável. Homens e mulheres sentem-se ligados à sociedade de que são membros – sentem-se ligados mesmo quando os governantes dessa sociedade os tratam mal. O simples hábito e a força da inércia são extremamente poderosos. Abandonar uma rotina, mesmo que seja a rotina do desconforto, requer mais esforço do que a maioria das pessoas está preparada para fazer. Em maior ou menor grau, portanto, todas as comunidades civilizadas do mundo moderno são constituídas de uma pequena classe de governantes, corrompidos pelo excesso de poder, e de uma grande classe de governados, também corrompidos, pelo excesso de obediência passiva e irresponsável. Reformas econômicas não são por si mesmas suficientes para produzir as mudanças desejáveis no caráter da sociedade e no dos indivíduos que a compõem. A menos que sejam conduzidas pela correta espécie de meio e pela correta espécie de contextos governamental, administrativo e educacional, tais reformas ou serão infrutíferas ou, na realidade, darão origem ao mal. Os métodos existentes de governo e os sistemas existentes de organização industrial não são passíveis de sofrer mudanças, exceto por pessoas que tenham sido educadas para desejar mudá-los. Ao contrário, é improvável que os governos, organizados como são atualmente, possam vir a mudar o sistema de educação existente de tal maneira que venha a se registrar uma demanda para uma completa revisão dos métodos governamentais. Trata-se, pois, do costumeiro círculo vicioso do qual, como sempre, existe apenas um único meio de escape, isto é, através de atos de vontade livre por parte de indivíduos moralmente esclarecidos, inteligentes, bem informados, determinados, que atuem em uníssono.

É na esperança de que existam atos de vontade livre por parte de indivíduos moralmente esclarecidos, inteligentes, bem informados, determinados, que atuem em uníssono que proponho aos muriaeenses a criação de uma Organização Não-Governamental (ONG) que terá por missão colaborar para a inauguração de um novo marco na administração pública municipal, caracterizado por responsabilidades sociais solidárias e materialização de uma melhor qualidade de vida para as atuais e futuras gerações, de acordo, principalmente, com as diretrizes da Lei nº 10.257, de 10.07.2001, e do Estatuto da Cidade-Guia para Implementação pelos Municípios e Cidadãos.