19/07/2015

NATUREZA DO ESTADO MODERNO

Aldous Huxley (1894-1963) escreveu:

“Existem poucos governantes e muitos governados. Os governantes são geralmente conduzidos pelo amor ao poder e ocasionalmente pelo senso de dever perante a sociedade. (...) Os governados, na sua maior parte, tranquilamente aceitam a sua posição subalterna e até mesmo real sofrimento e injustiça.”
(...)
“A paciência dos homens comuns é o mais importante e quase o mais surpreendente fato da História. A maioria dos homens e mulheres está preparada para tolerar o intolerável. As razões para este extraordinário estado de coisas são muitas e variadas. Em primeiro lugar, está a ignorância. Aqueles que desconhecem outro estado de vida senão o que é intolerável, não têm consciência de que o seu quinhão pode ser melhorado. Em seguida vem o medo. Os homens sabem que suas existências são intoleráveis, mas receiam as consequências da revolta. A existência do senso de parentesco e solidariedade social constitui outra razão para que os povos tolerem o intolerável. Homens e mulheres sentem-se ligados à sociedade de que são membros – sentem-se ligados mesmo quando os governantes dessa sociedade os tratam mal.”
(...)
"O simples hábito e a força da inércia são extremamente poderosos. Abandonar uma rotina, mesmo que seja a rotina do desconforto, requer mais esforço do que a maioria das pessoas está preparada para fazer.”
(...)
“Em maior ou menor grau, portanto, todas as comunidades civilizadas do mundo moderno são constituídas de uma pequena classe de governantes, corrompidos pelo excesso de poder, e de uma grande classe de governados, também corrompidos, pelo excesso de obediência passiva e irresponsável.”
(...)
“Reformas econômicas, tão caras aos 'pensadores avançados', não são por si mesmas suficientes para produzir as mudanças desejáveis no caráter da sociedade e no dos indivíduos que a compõem. A menos que sejam conduzidas pela correta espécie de meio e pela correta espécie de contextos governamental, administrativo e educacional, tais reformas ou serão infrutíferas ou, na realidade, darão origem ao mal.”
(...)
“Os métodos existentes de governo e os sistemas existentes de organização industrial não são passíveis de sofrer mudanças, exceto por pessoas que tenham sido educadas para desejar mudá-los. Ao contrário, é improvável que os governos, organizados como são atualmente, possam vir a mudar o sistema de educação existente de tal maneira que venha a se registrar uma demanda para uma completa revisão dos métodos governamentais. Trata-se, pois, do costumeiro círculo vicioso do qual, como sempre, existe apenas um único meio de escape, isto é, através de atos de vontade livre por parte de indivíduos moralmente esclarecidos, inteligentes, bem informados, determinados, que atuem em uníssono. 

Mais tarde falarei da necessidade da associação voluntária de tais indivíduos e da parte tremendamente importante que podem desempenhar na transformação da sociedade.”

HUXLEY, Aldous. O despertar do mundo novo. São Paulo: Hemus, 1937, p. 59-62. (Grifos do Anacleto).