04/07/2015

A DIFÍCIL TAREFA DE EDUCAR

A escola de meus filhos estabeleceu que as provas dos alunos reprovados somente serão entregues aos responsáveis. Essa medida, que, à primeira vista, parece simples e correta, poderá ter sérias implicações na educação dos alunos, se minhas preocupações seguintes tiverem fundamento. 


Ao não apresentar certas provas aos pais – tendo a consciência de que deve fazê-lo – o aluno está cometendo uma falta grave sob o ponto de vista ético. Corrigir esse comportamento antiético é responsabilidade mais nossa, dos pais, do que das escolas. Certamente, o aluno não nasceu com esse comportamento antiético; ele o aprendeu em algum momento de sua vida ou, por alguma razão, vem sendo forçado a praticá-lo.

Posso até estar sendo catastrófico, mas penso que, se não voltarmos nossa atenção, para a correção de tais desvios, mediante uma verdadeira educação ética, moral e espiritual, a realidade do mundo, que já se encontra desastrosa, irá se tornar pior, se isso for possível. E, se isso acontecer, de nada adiantará para nossos filhos todo o amontoado de informações técnicas que estamos colocando em suas cabeças. Simplesmente porque eles não saberão ou não terão condições de construir uma autêntica felicidade!
A pergunta que se coloca é a seguinte: entregar as provas aos pais irá fazer com que o aluno se torne ético e auto-responsável? A resposta é um sonoro não! Sob um controle maior, o aluno deverá apresentar um melhor desempenho. Isso certamente vai agradar a “gregos e troianos”, mas é pouco provável que o aluno se torne mais ético, aprenda a ser responsável e a assumir as conseqüências de seus atos. Tratou-se o sintoma [a nota baixa], mas não se eliminou a causa que está levando o aluno a ter o comportamento antiético.


Obviamente, o problema é complexo, e inúmeras perguntas me assaltam a mente. Se nada foi feito para tornar o aluno ético e responsável – se apenas “tiramos o sofá da sala” – como vamos poder confiar nele? Até quando vamos poder monitorá-lo? Como se formaram os Josés Dirceus, os Delúbios Soares, os Renans e os Severinos? Será que podemos pedir aos traficantes que entreguem as “provas” a nós, e não diretamente a nossos filhos? 


Esta não será uma excelente oportunidade para ensinar aos alunos a ter um comportamento ético e responsável? Existe uma disciplina chamada Ética nas escolas? Será que estamos ensinando a nossos filhos aquilo que realmente interessa para a felicidade deles ou apenas lhes repassando o que outrora depositaram em nossas cabeças conforme adverte Paulo Freire? Conhecemos o caminho da autêntica felicidade?


Decidi. Vou comunicar à escola que meus filhos se acham, em caráter irrevogável, autorizados a receber todas as provas, pois assim fazendo terei oportunidade de verificar como eles se encontram em termos de ética e responsabilidade. Se desvios houver, buscaremos corrigi-los. E, mesmo sabendo que ética e responsabilidade não são as melhores ferramentas para se sobreviver neste mundo, procuraremos conscientizá-los de que ética e responsabilidade são atributos inerentes à nossa sobrevivência no Reino de Deus, onde é impossível ocultar as notas baixas de nossos comportamentos nesta vida, porque Nele “nada há oculto que não deva ser descoberto, nada secreto que não deva ser publicado”.

(Publicado em 04/2008)