23/09/2024

CANDIDATO A VEREADOR: O DILEMA

Um candidato a VEREADOR pediu minha opinião sobre um texto que tinha elaborado para gravar e publicar nas redes sociais.

Em resposta, desabafei:
Você está numa situação delicada: terá que decidir entre “chutar o balde”, ou seja, assumir completamente a bandeira do PLANO DIRETOR — o que certamente lhe trará contratempos e, também provavelmente, reduzirá muito suas possibilidades de ser eleito — ou continuar com a tradição que vigora há séculos.

Na primeira hipótese, se for eleito, seus desafios somente estarão começando, porque, por questão de coerência, sua primeira providência como vereador tem que ser pedir a revisão do Plano Diretor.

É muito provável que a mesa da Câmara não acolha o seu pedido.

Se a Câmara acolher o seu pedido, o prefeito o recusará como ocorreu com o requerimento feito por um ex-vereador, a pedido da AAMUR – Associação dos Amigos de Muriaé em setembro de 2010.

Assim, você terá que efetuar uma representação junto ao Ministério Público (MP). E, se o MP não agir, você não terá mais a quem recorrer.

Os eleitores que o elegeram certamente vão se omitir e não o apoiarão — vão se omitir, mais ou menos, como se omitiu a multidão que gritou “Hosana nas Alturas” quando Jesus entrou em Jerusalém.

Desse modo, você ficará num dilema: permanecer no cargo ou renunciar?

Existe ainda outro problema: mesmo que atendam a seu requerimento, dificilmente irão elaborar um Plano Diretor de acordo com o Estatuto da Cidade e tecnicamente correto. Provavelmente, como vem ocorrendo há mais de vinte anos, o Plano Diretor terá somente diretrizes; será uma carta de intenções; uma lei inócua que nada mudará na cidade e se desmoralizará em curtíssimo prazo.

Você pode estar se perguntando: “Então, como mudar”?

Somos nós que temos que mudar como entendemos a administração das cidades: SEM A PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO!

PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO — nesse sentido, a receita está na sentença que suspendeu a revisão do Plano Diretor de São Paulo:
“(...) a gestão democrática impõe à Municipalidade (Prefeitura) que (...) realize campanhas massivas de conscientização e convocação dos munícipes, não só para audiências públicas, mas sim para promover a sua devida participação no processo administrativo como um todo. Campanha não é convocação para audiência, mas sim um trabalho de mobilização popular, QUE INCUTA NOS CIDADÃOS A VONTADE DE PARTICIPAR e o entendimento sobre a importância dos assuntos debatidos...”.

Mas quem vai obrigar o prefeito a realizar “campanhas massivas de conscientização da população”? O vereador eleito? Como se vê, estamos mergulhados num círculo vicioso. Até quando?

Em 1937, Aldous Huxley (1894-1963) escreveu:
Trata-se, pois, do costumeiro círculo vicioso do qual, como sempre, existe apenas um único meio de escape, isto é, através de atos de vontade livre por parte de indivíduos moralmente esclarecidos, inteligentes, bem informados, determinados, que atuem em uníssono.
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