05/11/2010

SAUDADE DOS VELHOS TEMPOS

Freqüentemente, circulam na internet mensagens relativas “aos velhos tempos”. E, sempre quando alguém fala de saudade, recordo-me de quando estudava para o concurso do Banco do Brasil, e um amigo recitava parte do livro São Bernardo.
            — Zezinho, dizia ele, citando Graciliano Ramos: “Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração”. O meu amigo dava ênfase especial à última frase: Saudade?! Não! Não é saudade! É desespero, raiva, um peso enorme no coração.

            Descobri que a “saudade dos velhos tempos” é um sentimento que não ataca apenas os velhos, pois, há poucos dias, durante o almoço, minha filha de onze anos disse que tinha saudade de quando tinha sete anos. Será que hoje o tempo está passando mais rápido? Ou as esperanças de nossos filhos estão morrendo mais cedo?

            Os comentários abaixo são de um brilhante advogado e, agora, também um grande pensador. Ele se refere a “A Busca”, um texto em que falo, dentre outras coisas, de minhas dificuldades quando, nas férias escolares, colhia café no sítio de meu pai. Espero que as observações lhes sejam úteis, como o foram para mim, pois “saudade dos velhos tempos” constitui, no mínimo, “um peso enorme no coração”.

            Sobre “A Busca”. Concordo com o texto. Um dos questionamentos me fez pensar [Ih!!! Perigo.]. Quando você pergunta: “… O objetivo é chamar a atenção para a complexidade de nossa mente e de nossa vida. E especialmente para nossos questionamentos na velhice. Por que sinto saudades daqueles tempos? Por que, aos 63 anos, eu acho que era mais feliz naquela época de dificuldades do que sou hoje nesta época de facilidades?”
            Não conheço sua resposta, mas acho que a grande maioria [segundo minhas pesquisas, em torno de 84,73% das pessoas] encara este questionamento como uma forma de expiação de culpa, partindo de uma premissa equivocada.
            1o ) Não é verdade que lembramos de um fato passado como uma “época de dificuldades”. Racionalmente, acordados, nossa mente somente se recorda de “fatos bons”, não necessariamente felizes, mas fatos que nos conduziram a um crescimento interior. Aqueles “fatos ruins”, que nos causaram um sentimento ruim, que nos prejudicaram, não são lembrados racionalmente. Podem vir na forma de sonhos (ou pesadelos), e freqüentemente vêm. Então, se “lembramos” de determinado fato [no seu caso a colheita de café] certamente que não era uma “época de dificuldades”, mas uma época de “fatos bons”, apesar das dificuldades.
            2o ) Hoje, apesar das facilidades, pode não ser uma “época de felicidades”, por isso gostamos de lembrar do passado, quando vivíamos uma dificuldade mas possuíamos a esperança de um futuro, que certamente seria melhor. Então, o que sentimos saudade não é dos “fatos” que aconteciam naquela época passada, mas sentimos falta da “esperança” que possuíamos. Será que ainda temos, verdadeiramente, esperança de alguma coisa?
            Acho que essa é a diferença. Sentimos saudade da “esperança” de um futuro melhor; sentimos saudade do “tempo”, do tempo que ainda teríamos de vida, porque agora achamos que não teremos tanto tempo assim. O tempo futuro é a base da esperança. Por isso a “culpa”, a culpa de não termos aproveitado “bem” o nosso tempo futuro. Para aplacar essa “culpa”, rotulamos aquela nossa época passada como uma “época de dificuldades”, o que não é uma verdade.
            O que fazer com essa “culpa”? Acho que a resposta é “encontrar a felicidade”. É a pedra filosofal, o Santo Graal? Acho que não, mas também não sei a resposta de “como” fazer. Aceito sugestões. Grande abraço. Nilson.
(11/2008)