“Se,
entretanto, a inércia popular, a incompetência das lideranças e os estreitos
egoísmos corporativos que parasitam o Estado e a sociedade não permitirem que
se empreenda, apropriadamente, esse esforço de reforma social e de reforma do
Estado, não pode haver dúvidas quanto ao fato de que mergulharemos, dentro dos
próximos anos, numa situação de irremediável caos.
"Não será mais possível andar
nas ruas, porque os bandidos se terão apropriado do controle das cidades, e a
subsistência física das pessoas estará criticamente afetada, porque os serviços
públicos não assegurarão o suprimento de energia elétrica, de transportes
públicos, de limpeza urbana, de comunicações, de saúde e do próprio
abastecimento. Greves selvagens e insolúveis interromperão, continuamente, a
precária rotina da vida diária. Nesse ambiente de caos e de inviabilidade da
existência coletiva, os mais capacitados abandonarão o país, em inauditas ondas
migratórias.
"As instituições democráticas entrarão em colapso. E um
neofascismo, de corte sul-africano, instaurará um regime de ditadura de classe
média, implantando, numa sociedade mestiça, em que o “apartheid” de raça não é
viável, um “apartheid” de classe, que reprimirá coercitivamente as grandes
massas. Alternativamente, poderá ocorrer que um esquerdismo primitivo, contando
com suficientes conivências militares, implante um social-populismo de corte
etíope e institucionalize, no país, um autoritarismo afro-asiático.
“Para o
Brasil, o dilema é inescapável e urgente: reforma ou caos."
JAGUARIBE,
Hélio et al. Brasil: reforma ou caos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p.
305.