Abro
o jornal e vejo as manchetes: 2.053 casos de dengue por dia na segunda maior
cidade do país. Ministro recomenda evitar o uso de bermudas na cidade das
bermudas. A charge do Chico traz: “A banda ‘cara-de-pau-e-cordas’ [Lula, Cabral
e César Maia] apresenta a ‘sinfonia do mosquito’”.
“Ainda
bem que isso somente acontece na cidade dos outros”, sempre pensamos! Sou
forçado a concordar com o Arnaldo Jabor: “Brasileiro é...”. E pela milésima vez
me pergunto: “qual a solução”? Há praticamente um consenso de que o caminho
está na educação. Educação? Qual educação? Em 1937, Huxley escreveu que
milhares de crianças passam milhares de horas ouvindo reprimendas dos
professores, e o mundo vai se aperfeiçoando cada vez mais para as guerras.
Diria eu, “guerras exteriores” e, o que é pior, “guerras interiores”. É
impossível ser diferente, pois fomos preparados para competir, e não para “amar
ao próximo como a nós mesmos”; preparados para vencer no passageiro mundo dos
homens, e não para sobreviver no eterno Reino de Deus.
Há
possibilidades de alguma mudança com o modelo de “educação bancária” criticado
por Paulo Freire? “Depositamos” nas cabecinhas de nossos filhos o que
aprendemos; nossos filhos irão “depositar” o que aprenderam nas cabecinhas de
nossos netos, e, assim, sucessivamente, o “esquemão” vai se perpetuando ao
longo dos anos. Nada muda. Nero tocava lira enquanto Roma ardia; os governantes
atuais fazem demagogia e campanha política, e todos jogamos no lixo os artigos
48 e 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal e o § 1° do artigo 37 da Constituição
Federal, enquanto, “ao som da sinfonia de mosquitos”, desgraças acontecem
diariamente com nossos irmãos menos favorecidos. Não importa; nada que uma hora
de culto semanal e alguma caridade confortável não possa apagar de nossa mente!
A
cada dia vou-me tornando mais chato ao repetir que o único caminho possível
está na espiritualidade, ou melhor, no correto entendimento dos ensinamentos de
Jesus. Um entendimento com razão e lógica, e não com misticismo e fé cega. Um
entendimento de que “todos estamos no mesmo barco”, claramente traduzido nas
palavras de Jesus na afirmação de que “O Pai e eu somos um”.
Se
eu efetivamente acreditar que “O Pai e eu somos um” – em outros termos, no
mundo espiritual, eu e você somos um –, eu não vou me sentir confortável com
todas as mordomias e roubalheiras de um cargo público enquanto outros, isto é,
outras partes do corpo de Deus estiverem sofrendo em corredores de hospitais e
sendo picadas pelo mosquito da dengue.
Existem,
entretanto, aqueles que acreditam que “irão para o céu”, pois não têm nada a
ver com tudo isso que está acontecendo no mundo. “A culpa é dos outros”,
conforme demonstrou a pesquisa feita pelo Ibope com 1.400 brasileiros e
divulgada em O Globo de 09.03.08. Acho correto defender o meio ambiente, mas
compro tranqüilamente o meu 15° par de sapatos. Não me interessa
conscientizar-me de que o sapato vem do couro, o couro vem da vaca, a vaca come
capim e bebe água, o capim resulta de desmatamento, e desmatamento implica
redução da água potável!
Com
base no meu catecismo da década de 50, acreditava que ao morrer ressuscitaria
no céu conforme aconteceu com Jesus, apesar de todos os meus defeitos que
certamente carregarei até a morte! Hoje penso diferente. Ultimamente, andei
relendo Mateus 17,10-13, Hebreus 9,27 e 1Coríntios 15,35. Ocorreram-me novas
interpretações. Agora penso que existe uma grande diferença entre ressuscitar e
reencarnar. Para ressuscitarmos conforme ocorreu com Jesus, devemos estar
“perfeitos como perfeito é o Pai que está no céu” (Mateus 5,48) e, desse modo,
“O Pai e eu passaremos a ser um”. Se for para sentar ao lado do Pai, tenho que
me tornar como criança, e exclusivamente eu sou responsável por essa
transformação. E até atingirmos a perfeição – o que está muito longe de
acontecer, diga-se de passagem –, vamos ter que reencarnar aqui “nesta escola”.
Meu
raciocínio é simples: se aqui estou é porque “meu reino ainda é deste mundo”,
ou seja, “esta escola” é compatível com meu estado de evolução espiritual.
Desse modo, somente me resta tentar fazer algo para aperfeiçoá-la e
simultaneamente me aperfeiçoar, a fim de que quando aqui retornar encontre um
mundo melhor, ou reúna condições para ser promovido para uma “escola” mais
avançada.
Mas
COMO? O como está certamente na interpretação e na prática correta dos
ensinamentos de Cristo. Uma interpretação e prática honesta, lógica e racional,
voltada para as coisas de Deus, e não para “ajuntar riquezas aqui na Terra”.
Jesus
veio para nos mostrar o caminho da salvação. Ao carregar a sua cruz e se deixar
crucificar, Ele nos mostrou, contudo, que não se trata de um objetivo fácil de
ser atingido, especialmente porque permanecemos embriagados pelas coisas deste
mundo há mais de dois mil anos, conforme Jesus disse: "Assumi meu lugar no
mundo e revelei-me a eles na carne. Encontrei todos embriagados. [...] Pois
vazios vieram ao mundo e vazios procuram deixar o mundo. Mas no momento eles
estão embriagados. Quando superarem a embriaguez, então mudarão sua maneira de
pensar". Portanto, o primeiro desafio é superarmos a embriaguez pelas
coisas deste mundo.
FELIZ
PÁSCOA!