20/07/2010

LEI SECA

Jesus disse: “Permaneci no meio do mundo, e em carne apareci para eles. Encontrei-nos todos embriagados...”. As palavras de Jesus continuam verdadeiras, conforme atestam as reportagens sobre a Lei Seca.
Obviamente, Jesus não se referia à embriaguez provocada por bebidas alcoólicas; Ele se referia ao fato de vivermos no “piloto automático” e hipnotizados pelas coisas deste mundo. Ou seja, a um estado de inconsciência que não nos permite avaliar corretamente nossos atos, conforme se depreende das notícias relativas à recente Lei Seca.


Segundo temos observado na imprensa, a única preocupação dos consumidores é encontrar uma alternativa para continuar bebendo sem infringir a lei. Não me recordo de ter visto, em momento algum, alguém que, motivado pela proibição legal, esteja examinando as possibilidades de se adotarem alternativas mais saudáveis, tais como reduzir ou eliminar o consumo de bebidas alcoólicas. Isso é lamentável, especialmente para os nossos filhos, pois atesta claramente que tomar uma cervejinha, “prá relaxar”, passou a fazer parte de nossa vida, assim como comer, beber, dormir e praticar sexo.


Beber uma cervejinha tornou-se uma necessidade física e psicológica, um hábito tão arraigado à vida da maioria das pessoas que elas nem mesmo aproveitam o alerta da Lei Seca para questionar a possibilidade de introduzir hábitos mais saudáveis em suas vidas? Tornou-se um antídoto, praticamente insubstituível, contra o estresse da vida moderna e até mesmo um estilo de vida, porquanto alguns dizem que viver sem beber não é viver; outros falam que sem bebida não há festas, não há vida.


Deixar de beber é uma grande experiência de vida. Muita coisa muda, e não apenas em você. Mas deixar de beber exclusivamente por uma decisão de foro íntimo – sem qualquer pressão externa física, psicológica ou espiritual – não é uma empreitada fácil. Preliminarmente, é necessária muita reflexão, pois nossa mente pode ser tanto o nosso céu quanto o nosso inferno, e o diabinho sempre estará nos questionando sobre os momentos felizes passados sob os efeitos dos fogaréus.


Parei de beber faz quase cinco anos. Considero o meu caso uma decisão de cunho espiritual, pois acredito na reencarnação e, desse modo, entendo que este mundo é uma escola e que aqui estamos para nos desenvolver como seres espirituais.


Por outro lado, não creio que a vida seja simplesmente trabalhar, comer, dormir, transar, e embebedar-se. Não acredito que tudo se acabe com a morte; também não acredito que no estado em que nos encontramos iremos viver eternamente no paraíso após a nossa morte. Sem grandes sacadas filosóficas, no estado em que nos encontramos, nossa mente, num minuto, transformaria o paraíso num inferno. Mais ou menos, como ela faz com a gente, aqui e agora: acordamos no paraíso, uma hora depois estamos no inferno, e assim vamos alternando o nosso céu-e-inferno ao longo do dia. Além de tudo, não podia me esquecer do conselho do Mestre Osho: “Se você não está gostando da escola, procure ser um bom aluno, a fim de que você se forme o mais rápido possível”. E o bom aluno deve estar sempre consciente, a fim de aprender as lições que o mundo lhe ministra a todo momento.


Com isso tudo na cabeça, por uma questão de inteligência e coerência, tive de aceitar que eu estava “matando aulas”. Em outras palavras, literalmente embriagado, deixava de aprender e, portanto, teria que repor as aulas em reencarnações futuras, a fim de me tornar perfeito como perfeito é o Pai que está no céu (Mateus 5,48). A propósito, no meu entender, tornar-se perfeito é condição sine qua non para ingressar no Reino de Deus.  E como me tornar perfeito se as cervejinhas anestesiavam o meu cérebro e não permitiam que eu transformasse a minha mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus, conforme ensinou São Paulo em Romanos 12,2?


Mas o diabinho sempre tem alguém de plantão: “E se esse negócio de o Reino de Deus estar dentro de cada um for invenção de Jesus?”. A terceiros e a mim mesmo, eu simplesmente respondo: já bebi todas e, com relação às coisas deste mundo, tais como as conhecemos, estou mais ou menos como o Grande Raul: “Eu devia estar contente... mas que sujeito chato sou eu que não acho nada engraçado, macaco, carro, praia, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco”. Muito menos acho engraçada a doação de R$ 25 milhões feita pelo Daniel Dantas à “Letícia”!